PROJOVEM ADOLESCENTE

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terça-feira, 3 de novembro de 2009

LER NA ADOLESCÊNCIA

Ler já foi uma arma da adolescência. Perdeu-a, mas deve recuperá-la. A leitura já foi um espaço de mudez-surdez, tão caro aos adolescentes, habitado por sonhos e ousadias; era um espaço de imobilidade pesada, atirada contra a presteza e prontidão dos adultos; era um espaço de atraso e de demora, de desculpa, de teimosia, de ultrapassagem subterrânea dos legítimos superiores. Hoje, o adolescente não suspeita de quão estrategicamente útil lhe poderia ser a leitura e foge a desgastar-se noutras andanças. Há um vazio imenso a fingir que é movimento e alta voz. Ler não é uma actividade essencialmente grupal, mas garante ao grupo a existência do indivíduo. Um grupo não é só uma coincidência de gente, ao mesmo tempo, na mesma escola, na mesma rua, na mesma praia, na mesma discoteca. Não é apenas uma simultaneidade. No equilíbrio das forças que sustentam um grupo tem de haver um lugar para a distância, para a pertença a si próprio. A leitura é um elo que nos solda a alguma coisa de sólido que vai havendo em nós, enquanto a diversidade nos interpela, ao som de uma voz pública que nos pretende ditar, com se fôssemos só uma folha branca onde nos vão inscrevendo, porque ler é também rejeitar, revelar, identificar, abrir, descobrir.É muito provável que não haja o gene da leitura, mas tem de haver a educação para a leitura, como imperativo de uma cultura humanista.

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